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enquanto o noivo se aperalta, ou é aperaltado por quem sabe, na rua trabalha-se na periferia do baraat. é preciso acender as lâmpadas que hão-de iluminar a procissão.
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os convivas vão chegando nas suas melhores roupas, de gravata os senhores mais estabelecidos, de kurta ou sherwani os rapazes, as senhoras todas com saris complexos e pesados que envergam com uma leveza inesperada. todas lindas, todas sem excepção, por entre o bling dos bordados, das jóias e do tecido disposto às camadas. uma portadora aproveita para fechar os olhos antes que o noivo saia de casa, ela imagina quanto tempo terá de carregar à cabeça a lâmpada de gás com todo o gás que ela exige.
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em linha recta, não estaremos a mais de quilómetro e meio de casa da noiva. acontece que o baraat não tem como finalidade principal, nem final, ir daqui até ali. fora essa a intenção e o noivo poderia ter ido por seu próprio pé ou de acelera ou riquexó, ou marcar encontro sem turbante nem lamparinas nem tambores na esquina antes do destino. é preciso que toda a cidade partilhe do acontecimento, como tal a procissão há-de fluir por todos os ziguezagues de todas as ruas e ruelas pelo caminho. e não menos de quatro horas, nunca menos de quatro horas. mas para nos assegurarmos de que toda toda toda a gente nos vem ver, há trompetes e música frenética e tambores e um teclado com um amplificador em cima dum carrinho de mão e muita dança - a dança é essencial na linguagem do baraat, não menos do que a prosódia do que dizemos quando o dizemos.
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e há fogo de artifício do tipo faça-você-mesmo, que guardaremos para perto do fim. e muitas fotos e luz e câmaras de vídeo, porque o noivo está feliz e isso nota-se-lhe na cara. antes das cãibras.
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o resto, como se diz, é história. chegamos ao fim de horas e horas e deixamos a noiva mais o seu rajá a cumprirem mais algumas horas de ritual. mas eu não fico, porque já passa das duas horas e são horas de ir ali a cima chafurdar em cabrito.