19.7.12

Vertical

new york city, metropolis de pretensões imperiais - que alardeia com despudor -, ergue-se em altura numa sucessão de linhas rectas, agulhas e pontos de fuga. aqui fica um retrato vertical, como convém, de manhattan num fim de semana de estio.
 

por entre os arranha-céus gincanam em flashes amarelos os táxis que reconhecemos dos filmes, uma ou outra limousine ou retro-escavadora a todo o vapor, e mais táxis. de semáforo em semáforo, em espasmos, vão avançando pela grelha das ruas gentes de todos os formatos, de nariz no ar e starbucks na mão.
 

com o negócio a meio-gás e o tempo abafado, parece que a população se mudou para os jardins que se nos atravessam no caminho. no colossal central park, uma multidão de joggers em maratona espontânea centrifuga no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. nas praças arborizadas mais a sul, lê-se, bebe-se, passeia-se muito cão (interrogo-me: quantos dos habitantes da cidade serão caninos?) e, uma vez por outra, cospe-se para o chão.
  

a cada passo, o recontro arquitectónico. colunatas neo-clássicas e fachadas extravagantes, tão do agrado dos nova-iorquinos, disputam com enormes torres envidraçadas a atenção do transeunte.
   

volta e meia, sem pré-aviso, damos de caras com um edifício icónico, um museu, uma rua cujo nome conhecemos sem que saibamos bem como. e assim se vai criando a cada passo uma familiaridade estranha, um constante confronto de imagens mentais e estímulos sensoriais.
    

este não é território inteiramente desconhecido, nem mesmo para quem o visita pela primeira vez, e no entanto surpreende a diversidade que aqui se vai descobrindo. de ruas congestionadas a recantos pacatos, de grandes armazéns a vendas ambulantes de pretzels ou hot dogs, de poças de água fedorenta aos reluzentes néons da broadway - há lugar para tudo, e ainda sobra algum para a criatividade.
     

de permeio, como não podia deixar de ser, a américa corporativa. em times square, sai desfreada à rua.
      

aqui, o pulso de manhattan é acelerado, quase agressivo. contudo - já o sabemos - nunca andamos muito longe de outros ambientes, da arte, da contra-cultura, do pitoresco e da decadência. esta ilha que reclama para si o umbigo do mundo faz-se de todos estes ingredientes. e não se esgota numa visita de fim de semana.

5 comentários:

Anónimo disse...

É incrível o texto!!! Lê-lo é viajar e ou volto aos lugares por onde já passei ou aterro numa nova cidade e parto à descoberta...

A sua admiradora,

Madalena :)

P Fernandew disse...

Ah, meu Caro, já não era sem tempo o seu regresso ao bloguio.
O seu relato seria o meu, se o meu fosse (a armar ao pingarelho, eu).

:)

H. Cardoso disse...

Caro P Fernandew, pôs-me a tentar imaginar quem das minhas relações cibernáuticas porderia utilizar a expressão "armar ao pingarelho". E tenho uma ideia... Não se quer identificar, estimado leitor?

P Fernandes disse...

Ora, ora, não me diga que o mispeling do nome o impediu de uma correcta identificação! Sou o seu velho amigo e camarada Presunto Fernandes, sempre ora babando de inveja ora recordando paragens familiares... Um grande bem-haja!

H. Cardoso disse...

Camarada Presunto, com a profusão de nicks que por aqui vai (e com o langor mental próprio do verão), uma pequena alteração ortográfica pode tornar-se uma barreira intransponível. Folgo muito em vê-lo de volta a este recanto que é seu e dos seus. Espero que não se esqueça dos amigos quando nestes tempos mais próximos passar pela Lusa Atenas!